O sete, a vida e o tempo reencontrado


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(Mensagem recebida)
Meu caro, meu caro, nem lhe digo e nem lhe conto (Santo Deus, ui, esta minha mania de iniciar as mensagens que lhe dirijo com um “nem lhe digo e nem lhe conto”, tem semelhanças com o início das cartas de antanho: “espero que todos estejam bem que eu cá vou indo como Deus quer e o tempo ajuda”). Adiante. Cheguei ao volume sete do “Em busca do tempo perdido” do Marcel Proust (o Pedro Tamen é um tradutor de se lhe tirar o chapéu!); e, zumbacatumba, perdi-me no título: “O tempo reencontrado”. Quantas, quantas são as virtudes do sete, meu caro admirador de mim todos os dias e aos domingos ainda mais, quantas são! Só que, bem vistas as coisas, digo, bem folheadas as páginas, cheguei à página 170 (outra vez o sete, vida), ri-me a bom rir quando vagueou (perdida) na minha mente perfeita a sua mania de escrever, digo, de pretender escrever obras intelectuais. Vida minha, digo, não digo, escrevo, não escrevo (sente-se o som do meu hã hã hã, sente, pois não sente?), pensava eu comigo, escrevo ou não escrevo o que li? Escrevo, digo, transcrevo, decidi-me, aí tem: “Daqui a grosseira tentação de escrever obras intelectuais. Grande indelicadeza, porque uma obra onde existem teorias é como um objecto onde se deixa a etiqueta com o preço. Raciocina-se, isto é vagueia-se, sempre que não se possui força suficiente para se limitar a fazer passar uma impressão por todos os estados sucessivos que levarão à sua fixação, à expressão. A realidade a exprimir residia, compreendi-o agora, não na aparência do assunto, mas numa profundidade em que tal aparência pouca importância tinha, o que era simbolizado pelo ruído da colher num prato, ou pela rigidez da goma do guardanapo, que me haviam sido de maior préstimo para a minha renovação espiritual que tantas conversas humanitárias, internacionalistas e metafísicas.” Vida minha, meu caro admirador de mim como sou, todos os dias melhor do que nos dias anteriores, como eu tanto e tanto e quanto concordo com o Marcel Proust! Até lhe confidencio o que escrevi (em sete rabiscos arabescados, sete outra vez, céus, até hoje é dia vinte e sete) no meu caderninho preto argolado: em literatura, nada de estilo, quero vida, quero tempo reencontrado. Sou assim (de nascença), perfeita, acutilante e única, sempre com os meus olhos grandes à proa de um sorriso maroto, que se há-de fazer!

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