Crença quotidiana: não perdi a minha estrela polar

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Anteontem foi domingo. Raio de domingo, estranho domingo, que dia enfadonho (que terá acontecido?), pensava enquanto me perguntava: que diabo terá acontecido para que esta melancolia me tenha atacado? Sou um ser de hábitos... Apanhei a tempo a tramontana (tramontana é uma designação clássica de um vento fresco e seco), e fui ver/ouvir um concerto às 10 horas da manhã. Entrei no edifício, dei umas voltas por ali (há quanto tempo não via o painel do Almada Negreiros!), e lá fui eu até ao segundo balcão. No meio de quase ninguém sentei-me na fila da frente, inclinado sobre o rebordo e a sentir um certo (e estranho) peso nas pálpebras. Os músicos chegaram, afinaram os instrumentos, instalaram-se. No curto silêncio que se seguiu, sorri: tinha vindo para o concerto à boleia de um vento fresco e suave, ainda bem que não perdi a tramontana, seja, ainda bem que não perdi a minha estrela polar. Começou o concerto... Os músicos iniciaram a sonata de Musical Offering, de que tanto, tanto gosto. Eis que, passadas que foram as primeiras notas, e quando começaram as primeira variações musicais, algo aconteceu: senti um suspiro perto de mim, fiquei com pele de galinha, o corpo arrebitou, uma vaga de beleza (que me fez ficar de respiração mais pesada) soprava ao de leve, os olhos fecharam-se-me e dei comigo num outro auditório (onde a religiosidade andava por perto), a mesma sensação, igualzinha: o meu espaço mental tinha-se alargado e a primeira vaga de devaneio foi de felicidade e de esperança. Tudo durou não mais que uma fracção de um segundo. Não me atrevi a olhar para o lado, mas senti alguém presente, senti que não tinha perdido a minha estrela polar. Sorte a minha ter apanhado a tempo a tramontana...

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