Rimou? Acontece...


Postal recebido
Que os gritos (melodiosos e cadenciados) dos mergulhões são linguisticamente plenos de sentidos para alguns povos, não é novidade, meu caro admirador de mim, não é novidade não, tantos e tantos são os relatos que por aí há (aos montes). Conta-se até que quando, junto de um lago, uma mulher koyukon cantava canções da primavera, dois mergulhões nadaram até à margem, até cerca de cinquenta metros, e responderam-lhe: enchendo o ar com vozes misteriosas e maravilhosas. Há mais. Conta-se ainda que essa mulher terá garantido que a fala do raro mergulhão de bico amarelo é mais poderosa que a do mergulhão comum: "diz as mesmas palavras mas a voz é um pouquinho diferente". Até aqui, meu caro, tudo normal. Mas que o mergulhão se consegue ver ao espelho na água e que se questiona "tenho que falar com o meu corpo para saber de mim", isso sim, deixa-me de franja à banda. Como é que é?! Repita, por favor, porque na repetição mora a diferença. Diz que na expressão "tenho que falar com o meu corpo para saber de mim" mora uma das raízes da criatividade? Que eu também sou assim? Será mesmo que estou a ouvir o seu pensamento a falar comigo e a dizer-me coisas (as coisas que eu sinto) em palavras bonitas? Que eu vivo todos os dias no espanto do existir? Que também eu me vejo ao espelho e que falo com o meu corpo para saber de mim? Céus, é verdade é, sou mesmo assim! Rimou? Acontece...


Adenda (postalzito recebido)
Acabei de reler o que hoje lhe escrevi, meu caro espantado comigo, e até pensei com os meus botões “olha-te ao espelho, mulher-cisne"; pode lá ser, imaginação minha, tempo amigo… Adiante. Conhece a Marina Cortês? Não?! Que surpresa nenhuma a minha! Por causa da expressão "tenho que falar do meu corpo para saber de mim", respiguei este fragmento de uma (curiosa) entrevista com ela. Ora leia: “Continua a dançar? Continuo sim. Mas para mim. Faço-o porque o meu corpo pede, está habituado, gosta de sentir os músculos a mexer.”… Olálá, até que a expressão faz sentido, céus, então não me lembrei dum poeminha seu (ainda não publicado, só meu) que se intitula "Desfazer um desejo represado"... Recorda-se? Não?! Santo Deus, memória fraca a sua! Aí o tem.

Foi regressar ao rosto e tocar-lhe
sem receio da insurreição da carne
Foi calar as palavras nas mãos
para libertar a boca e os dedos
Foi inventar os olhos e o riso
no ar frio e baço do vidro

.../...
Agora é um sabor sonhado a futuro
que o lento amanhecer traz consigo

21:40 - 03-Dez-2012

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