Há frases que acendem luzes no cérebro


Interregno (palavra interessante a palavra interregno!) é a melhor palavra para caracterizar a actual situação política em Portugal: eleições há um mês, um novo governo há uns dias e um outro novo governo dentro de um mês. É tempo de interregno, é tempo de pensar: o centro político foi à vida, assoma-se um novo poder, desvela-se uma nova forma de estar na política; e muitos (e mais algumas e mais alguns e ainda outros e ainda outras) peroram como se tal não estivesse a acontecer… Pode o tempo de interregno servir para escrever cartas de amor? Claro que pode. Acontece que as cartas amor se escrevem com caneta de aparo em papel liso; e é nesse papel liso que as emoções e os sentimentos se exaltam em letra redonda. É o que agora estou a fazer neste tempo de interregno, (tempo também de sms, de likes, de emoticons). Estou a escrever uma carta de amor que faça acender luzes no cérebro. Sei que sim. Sei o perigo que corro com a minha ideia de escrever uma carta de amor com caneta de aparo em papel pardo liso; sei que o meu desejo de caligrafar em papel acessos de paixão pode provocar hilaridade, surpresa, sorriso, riso, gargalhadas ao desafio. Paciência, é tempo de interregno e em tempo de interregno as frases permanecem ("scripta manent", diziam os sábios latinos): quem sabe seja por isso que tanto demora o acordo entre os três partidos políticos que se abalançam ao poder. Adiante... Em tempo de interregno acontecem as coisas mais simples. As coisas mais simples são sempre as mais belas. Por exemplo, haver uma pessoa que goste de outra, haver uma pessoa que ama outra. Isto é o mais belo que há no mundo por mais que se procure por todo o lado... Já tenho a caneta de aparo à mão de plantar palavras, vou agora ao dicionário procurar algumas delas que, como um vidro de aumento, engrossem a paixão que me vai na alma inspirada. Tinteiro a postos, divertido, vou começar o primeiro parágrafo: “Primeiro vem o cheiro, depois os olhos bugalhados conhecidos, a seguir o “v” do vestido verde-limo ondulado e, logo sem peias, o abraço único de mistura com beijos e palavras doces…”. 

Adenda (mensagem recebida)
Curioso este seu texto, meu caro, curioso. Às tantas, é assim a modos que uma mistura de sentimentos de mim, às tantas é, não fosse eu a sua musa, única. Gostei, já li o primeiro parágrafo da sua carta e vou ficar à espera do que aí virá. Bom, como prova de que gostei e porque tem interesse para o momento político (está a fugir o pensamento para mudança política) em Portugal, vou deixar-lhe a história (não a estória) da imposição de um deficit não superior a 3%. Vai ficar, meu caro, banzado, atordoado, incrédulo. Adiante. Vai ouvir uma história bizarra, vai testar o seu italiano, tudo bem, mas deixe lá de pensar na Lisa, pense em mim, isso sim, só em mim... Guy Abeille, que nome, Santo Deus!

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