Um abatanado, por favor, depressinha

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Oh, oh, oh, meu caro, olhe só para esta imagem, linda pois não é? Que lhe parece?! Surpreendido, olhei para a única fada que (quando está aflita) fala sem sílabas nas palavras, e disse-lhe que nunca tinha visto um gato numa chávena e sim, que me fazia recordar o gato de Schrodinger numa caixa... Mas não é um gato e muito menos o gato da experiência do Erwin..., meu caro, é a imagem de uma gata linda e olhuda, atirou, isso lhe garanto eu, singelo contra dobrado. Homessa, ripostei, como é que sabe? Antes de lhe responder, disse ela baixando a voz, saiba que os gatos pensam que são donos dos humanos e não o contrário; são pouco dados a mostrar carinho, são presumidos e independentes, e só necessitam das pessoas para que lhes dêem tempo, alimento e bebida para viverem e sobreviverem; fazem gala de uma estranha inteligência que os torna fascinantes, e adoptam comportamentos muitas vezes incompreensíveis aos olhos dos humanos... Tudo bem, provoquei, mas como é que sabe que é uma imagem de uma gata e não de um gato?! Calma, tenha calma, aconselhou, pense um pouco comigo num conjunto de características da natureza dos gatos: não reagem à imagem no espelho porque a imagem no espelho não tem odor, passam muito tempo desaparecidos para tirar ligeiras sonecas nos braços de Morfeu e são elegantes no andar, empregam 30% da sua vida a assear-se e não comem comida de véspera, sabem bem marcar o seu território, mantêm um instinto caçador e sonham presas em potência, a sua excelente capacidade de saltar e de reagir garante-lhes sete vidas, gostam de rotinas e são dotadas de uma extraordinária habilidade para beber água pura, são lindos e de olhos grandes e perspicazes... Pois sim, insisti, mas como é que sabe que é uma imagem de uma gata e não de um gato?! Que vida, exclamou, mas não reparou que a chávena do abatanado é minha, que é a minha chávena-loiça do meu abatanado? E daí, questionei, e daí como é que se pode deduzir que é uma imagem de uma gata e não de um gato?! E ele a dar-lhe, reagiu, ele a dar-lhe..., será que não sabe que um abatanado devolve sempre uma imagem de quem o pediu? Como é que é, interroguei, aquela é a sua imagem (a sua imagem reflectida no abatanado?!)..., mas também é (ou já foi noutras vidas) uma gata, já teve muitas outras vidas, pois não teve? Sorriu-se de ar felino enquanto ronronava divertida: ele não esteve atento às características dos gatos, ele não percebeu que sou (também sou) mesmo uma gatinha curiosa e fofa, recuso acreditar que ele não conheça a sua dona... Ele sou eu?! Ela é a minha dona?! Enquanto ser humano tenho uma dona que é uma gata linda, elegante, inteligente, olhuda e fofa?! Tu queres ver, pensei, que até eu já fui um gato numa outra vida passada, será que ainda sou?! Quem me dera saber! Quero saber!... Um abatanado, por favor, depressinha.

Adenda (mensagem recebida)
Ele há cada coincidência, meu caro! Então não é que acabo de receber o poeminha que agora lhe envio, agora que aqui lhe envio e só entre gatos... Um poeminha cujo título é coincidir... Coincidir, coincidir, coincidir, ele há cada coincidência, meu caro! Santo Deus, Jesus, Maria, José! 

Soy vecino deste mundo por um rato

Y hoy coincide que tu tambien estas aqui
Coincidencias tan estrañas de la vida
Tantos siglos, tantos mundos, tanto espacio?
Y coincidir

Si navego con la mente en los espacios
O si quiero a mis ancestros retornar
Agobiado me detengo y no imagino
Tantos siglos, tantos mundos, tanto espacio?
Y coincidir

Si en la noche me entretengo en las estrellas
Y capturo la que empieza a florecer
La sostengo entre las manos mas me alarma
Tantos siglos, tantos mundos, tanto espacio?
Y coincidir

Si la vida se sostiene por instantes
Y un instante es el momento de existir
Si tu vida es otro instante... No comprendo
Tantos siglos, tantos mundos, tanto espacio?
Y coincidir

Alberto Escobar y Raúl Rodriguez

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