O quê?! Pentâmetro jâmbico?!

Ford Madox Brown - Romeo and Juliet
O autismo, meu caro, surgiu-me de forma inesperada neste meu fim de semana. Relato-lhe um facto que, espero, seja para si uma pista de reflexão: numa actividade colectiva um menino autista não comunica com ninguém, chega um amigo de uma educadora e o menino, que nunca o viu, sorri e abraça-o; porque é que o abraça se não o conhece?! Olhei, de cara à banda, para a única fada que sempre que faz uma pergunta já conhece a resposta... Não arrisquei, disse (blá, blá, blá) que a tipificação do autismo no DMS-5 tinha sido alterada, alvitrei que ela poderia não ter observado bem o comportamento do menino e blá, blá, blá... Falei-lhe do "desvario" que se passa em Portugal (falta um simples acordo de cooperação - prometido pela segurança social há cinco anos, ouviu bem?!)... Oh, oh, meu caro, interrompeu-me, claro que sei e conheço bem o que se passa neste nosso Portugal atarantado; mas, voltando à questão que lhe coloquei, claro que observei bem o comportamento do menino mas também observei cuidadosamente o comportamento do amigo da educadora... E? Perguntei. E, sentenciou, o amigo da educadora tinha parecenças, no estar e no falar, com o mago Próspero da "Tempestade" de Shakespeare... Ei, ei, provoquei, não percebo nada de nada, nadinha de nada... Tenha calma, disse em jeito de confidência, tenha calma, veja esta imagem (ai quão bem, quão bem me recordo - emocionou-se - de o William me ter dito que "tão impossível é avivar o lume com neve, como apagar o fogo do amor com palavras", ai como eu o sei bem...), e guarde, continuou, a informação que lhe vou dar de mão beijada, seja: além de nos comoverem, os  textos literários de William Shakespeare não só são de uma beleza extraordinária quanto apoiam o desenvolvimento cognitivo e comunicativo das crianças com espectro de autismo...; sabe (tem uma leve ideia que seja) do que significa "Hunter Beat"? Claro que não sei, claro que não tenho qualquer ideia, disparei assaz curioso, sou todo ouvidos: textos literários e autismo, que mais me irá acontecer, belisquei-me... Claro que não pode saber, vida a minha, suspirou soletrando as palavras e rodopiando em curvas soltas, ora oiça: "a Kelly Hunter (que é actriz e directora do grupo "Touchstone Shakespeare") criou um método que estimula a capacidade de comunicação e de cognição dos autistas, através da experiência retórica das estórias escritas por Shakespeare; o método "Hunter Beat" é uma técnica com base no ritmo da métrica, que consegue regularizar as palpitações cardiovasculares das crianças, provocando uma sensação de segurança...; além de que, através das expressões faciais e do intercâmbio da tonalidade das vozes, as crianças podem encontrar uma via de facilitação da comunicação...". Absolutamente fascinado, ora olhava para a imagem (seria ela na janela?!!!) ora olhava para ela (estava liiiiiindamente vestida e de olhos grandes bogalhados), e só entendi que ainda me dizia que a métrica era em pentâmetro jâmbico... O quê?! Pentâmetro jâmbico?!

Adenda (mensagem recebida)
Sabe, meu caro, sabe que me deliciei com a sua atrapalhação... Que divertida a sua atarantice, ui , ui, ui, como eu me divirto enquanto a chuva cai em dilúvio,,. E de que é que me recordei, de que é que me recordei?! Destes pestinhas a brincarem com o William e comigo, fama a quanto obrigas... Veja lá se aprende com eles a dizer "Wilshapes", e veja se tenta explicar as estórias do Shakespeare como elas são: como esta, "Sonho de uma noite de Verão", que encheu de carícias e cores e sons a imaginação daqueles pestinhas lindos e queridos...

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