Que vida a minha, socorro avó zuñi!

Sabia que às vezes me sinto, como hei-de dizer, fragmentada? Compreende o que eu quero dizer? Perguntou-me, ainda o dia se fazia à luz de Novembro, a única fada que ouve as palavras escritas. Ela sente-se fragmentada como quem concentra saber e beleza no mínimo de palavras... Só pode ser, pensava eu comigo, quando ela, embrulhada num vestido quentinho e linda de morrer, me sussurrou: quando leio algumas palavras nas suas mensagens, entro numa profunda participação, ou quiasma, com as marcas da tinta sobre a página; ligo os meus sentidos na superfície plana da página e tal como uma anciã zuñi (minha avó no tempo) que foca os olhos sobre um cacto e ouve o cacto falar, também foco os meus olhos nas suas palavras escritas, ouço-o a si e até me arrepio/arrepiadinha. Em jeito de brincadeira, disse-lhe que estava deliciado a imaginar a sua avó no tempo (uma anciã zuñi) a focar os olhos num cacto e a ouvir o cacto falar; disse-lhe ainda que a palavra focar me recordava a imagem de uma foca linda, olhuda e dorminhoca que eu tinha visto num oceanário húmido e aninhado. Meu adorado pensador, ouvi-a sussurrar, percebe agora quando eu digo “que às vezes me sinto fragmentada”? Sinto-me assim a modos que uma foquinha linda, uma foquinha olhuda e uma foquinha dorminhoca; três foquinhas e sinto-me bem comigo. Sempre em qualquer circunstância uma foca e nunca três, interrompi-a..., variam apenas os adjectivos (linda, olhuda e dorminhoca), verdade? Meu caro (os olhos dela fulminavam em raios de riso concentrado e até os brincos verdes balançavam em desvario), invectivou-me, antes quero ser três vezes foquinha que uma vez… Desculpe, desculpe, desculpe, não quero ser mal-educada consigo. Agora me recordo, rematou, que o cacto da minha avó zuñi era falante, intempestivo e desbocado…, será que apanhei aquele seu jeito sinestésico de falar? Que vida a minha, socorro avó zuñi! 

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