"Rir é uma coisa muito boa..."

Costumo dizer que faço laboratórios musicais, eu gosto de experimentar. Cheguei a esta altura da minha vida e percebi que estive sempre ligada a projectos de fusão. O grupo “As 3 Marias” tem por base o tango, que funde com outros tapetes musicais, com outras sonoridades. Tem um bocadinho de flamenco à mistura, um bocadinho de fado, fado como conceito, não como fado mesmo. Há quem nos chame o “Tango da Invicta”, e eu acho que é uma definição muito apropriada. Temos muitas referências à cultura do Porto. Há, por exemplo, um tema que se chama “Maryjoana” e fala de uma personagem das “Fontainhas”, uma esteticista que ganha a sua vida legitimamente a tirar pêlos e a “fazer mises”. É quase um minimalismo a nível de letra. Costumo dizer que esta “Maryjoana” inofensiva é uma elegia do nada e, se calhar, até faz sentido neste país, onde ouvimos tantos discursos que não dizem rigorosamente nada. Pelo menos, esta “Maryjoana” tem um certo humor. É bom sorrir quando somos bombardeados com notícias feias e más. Nesse sentido, o tema pode ser encarado como uma fuga à realidade, como uma forma de as pessoas poderem continuar a sorrir. Os portugueses têm uma postura muito séria em tudo o que fazem. Em tudo o que fazem, têm de ser muito sérios. Esquecem-se que rir é uma coisa muito boa e, sobretudo, é algo que estimula a criatividade, a mente.” (...)
Cristina Bacelar

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