Uma serenata de grilos...


O fenómeno da vida pode ser entendido como o acontecimento fundador da coerência dos nossos saberes sobre o Universo físico; já alguma vez tinha pensado nesta possibilidade? - Questionou-me, abatida por dentro da alma, a minha fada sensível. Na minha forma de ver, respondi de imediato, o fenómeno da vida permite determinar um grande número de parâmetros do Universo e, desde logo, porque a vida nas suas diversas manifestações é de uma evidência imediata. A sua resposta é mais uma vez de um principiante amador de ciência, interrompeu-me com bonomia; mas mesmo sendo assim, é uma resposta curiosa porque se aproxima do que eu pretendia que estudasse: o “Princípio Antrópico” que dá sentido à ideia de finalidade em ciência. Porque a vejo um pouco abatida e porque estou convencido que tem um qualquer trunfo escondido, sussurrei, prometo que irei tentar saber mais sobre esse dito “Princípio Antrópico”; não se importa de me dar uma ligeira pista para saber por onde começar? Comece, disse ela baixinho, por ver com olhos de ver e ouvidos de ouvir este vídeo: "The Known Universe". Gostou? Espero que agora deixe de fantasiar e que comece a vislumbrar o sentido que eu dou à expressão inglesa “back to our home”. Esta é uma expressão que costumo utilizar, conjugada com outra expressão inglesa igualmente interessante "back to our present",  em várias conferências para que me convidam, com regularidade, por esse Universo fora. Porém, verdade verdadinha, deixe que lhe diga, que o que agora me apetecia, era assistir a uma serenata de grilos nesta noite quente de Setembro; e bem aconchegada por causa desta maldita dor de alma que me atrapalha o pensamento. Uma serenata de grilos? Está mesmo com problemas de saúde complicados, talvez até já esteja a delirar, pensei eu. Deixe-se de pensamentos tolos e seja criativo, invectivou-me; o meu amigo Gaston Bachelard (um filósofo sábio e não um filósofo de trazer por casa) dizia que imaginar é acrescentar um tom à realidade e eu que sou fada concordo com ele. E concordo com ele porque só há o presente (o futuro é apenas uma projecção psicológica); e se só há o presente, veja se percebe, de uma vez por todas, que eu sei muito bem o que digo quando insisto consigo quer para parar de querer agradar a toda a gente quer para estar atento à realidade política e social à sua volta. Não o incomoda a vida difícil das pessoas? As manifestações de indignação de milhares de cérebros que pensam emocionalmente, não o deixam com os nervos em franja? Que sensibilidade autista a sua!
E não é que, durante toda a madrugada, ecoou na noite quente e húmida, em fundo de um céu espantosamente estrelado, uma belíssima, suave  e terna serenata de grilos? 
Não é possível!!! Ela sabe mesmo o que quer e o que diz, desabafei com os meus botões.

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